minha avó é um oráculo em chamas
me angustio em desvendar previsões
aos passos que darei para dentro
teimo em abafar o fogo dos dias
como se fosse capaz de segurar
a incandescência primitiva da vida
espevitada correndo nos quintais
da minha alma
sempre envolvida em sina de sorrir
ciranda de criar criança
criar criança forte
e viver em festa
ciranda de enredar meninos
às fábulas dispersas
e a esparrela é se atrever
a não dançar por medo
de machucar o dedo
em riste
e triste, desprezar
o segredo de curtir o couro
do tempo que martela o ouro
do amar
quinta-feira, 14 de maio de 2020
domingo, 23 de abril de 2017
estados físicos do amar
despedir-se
de filho é aguilhão
quando parece atenuar agrava
catapulta sobre si rubro remorso
filho se encolhe de olhos e braços
fabrica a força distanciada do gelo
mãe sempre soube e enxergou
criar cristalizações favorece
partidas
mas cisões
esquentam
gelo derrete
e tudo
que
se podia
tudo poça terça-feira, 13 de dezembro de 2016
abraço fortaleza de 60 anos-luz
abraço fortaleza de 60 anos-luz
Ahhh!
cordado que faz um amar elo no azu l ado de si
pelo
pata pele garras de rasgar peitos distraídos
beber
o leite morno atravessado pelo dia
até
esfriar e você sorrir brincadeiras com a bola
alva
do ocaso, onde põem o sol embrulhado
caixinha
cintilante dos sonhos esverdeados
plantados
em vermelhíssimas terras, garantidas
com
o coração na testa um boi-bumbá bombástico
sacudindo
as tranças alegóricas dos fatos desimantados
touro
na arena caçando o rubro capote, um novo Zeus
uma
dança folclórica popular, uma lenda urbana
um
cavalo de fogo intenso, um mito, astro lábio
uma
grande roda acesa que reverbera
uma
ponte para o nunca acabar
um
extravagante arabesco multicor
uma
conversa fiada em seda fé na humanidade
uma
cachoeira com entusiasmo e nuvens claríssimas
um
esporte olímpico, um hino cantado à capela
minha
bandeira e meu escudo, recife de corais
manto,
canto, santo, super-herói noturno
salvando
vidas, blindando aspirações
lutando
contra os temporais, conservando os segredos
dos
nossos ancestrais nas capas dos livros, dos corpos
dos
voos mais altos sobre os medos nublados
meu
capitão, me guie sempre ao caminho mais seguro
ao
regaço do seu abraço aço aço
segunda-feira, 5 de setembro de 2016
simulacros
um monstro
poderosíssimo
hábil em destruir pontes
encontros abraços reconhecimentos
semente envenenada que incha e explode
detonando tudo o que não é ele
ele é o eu
cego ego ego
egozinhos passeiam por aí
desgovernadamente
adoração de artefatos
adoração de artefatos
artifícios espocando imagens
— Imaginação é território da fé —
digladiando verdades que remam à irracionalidade
:
ilhar-se junto a suas palavras inúteis
— Imaginação é território da fé —
digladiando verdades que remam à irracionalidade
:
ilhar-se junto a suas palavras inúteis
terça-feira, 30 de agosto de 2016
discurso
peixes correndo sobre o ar
en-tornando
palavras lavradas no arrastão
voltam a mergulhar
sussurrando
bolhas de sabão
en-tornando
palavras lavradas no arrastão
voltam a mergulhar
sussurrando
bolhas de sabão
segunda-feira, 29 de agosto de 2016
anuviar
assobiar gotas de água
dos olhos pro olhar
cristo trincando de mágoa
cristais incrustados no ar
chuva melando contrastes
desligando mundos
metamorfose hasteada
devendo devir
fertilidade em perecedouros
a eterna impermanência
da travessia sem pegadas
epifania do vento
virando romaria
dos olhos pro olhar
cristo trincando de mágoa
cristais incrustados no ar
chuva melando contrastes
desligando mundos
metamorfose hasteada
devendo devir
fertilidade em perecedouros
a eterna impermanência
da travessia sem pegadas
epifania do vento
virando romaria
— nu
vem!
vem!
domingo, 28 de agosto de 2016
luz
fogo humano
seu balé lamparina
espera que arde vela
lâmpada redoma de luz
segurá-la lanterna
aleluias de libertação
é Sol
vagalume
sobre isso que falava
luzes artificiais apagam os vagalumes
a raiz do ser não se move
irradia
noite original
e quando nasce é dia
lâmpada é ânfora do tempo
dente postiço na boca aberta
da vida
todavia, é obscena a atração
e à meia luz, toda a luz
luzes artificiais apagam os vagalumes
a raiz do ser não se move
irradia
noite original
e quando nasce é dia
lâmpada é ânfora do tempo
dente postiço na boca aberta
da vida
todavia, é obscena a atração
e à meia luz, toda a luz
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