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sábado, 3 de março de 2007

Brasil, que sul me deste?

Sol Poente/1929 - Tarcila do Amaral



Brasil, que sul me deste
era vidraça de deixar
cacos estilhaçados
porta-retratos
retratados entre tacos
de suar os pés
dormentes
pedras como fundações
separadas como placas
manchando a ardósia
tantas vezes maculada
inescrupulosos sapatos
de senhores de penhoras
e saltos de senhoras
que transitaram em cetim
trampolim das grandes piscinas
de água que se guardara
amiúde entre retinas
no profissional olho
de chorar urgente.
No peito, só um tapete
que encobria a poeira
do bem comportado
"Volte Sempre"
e por todos os lados
só paredes
escorando o que amanheceria
em outras paragens
novas nuvens, mais ingênuas
menos grisalhas
menos canalhas
até que a navalha
não viesse deixar
pele sem pelos sonhados
contando a maior verdade
mais uma vez
desnudando a vida que,
pelada,
retornaria ao inverso processo
de nascida
de volta pra ida
descida involuntária
à pior real idade
escancarando a vidraça
que, já fora quebrada...
se sumir desse,
sangraria
mas chega de sudeste
Brasil, que sul me deste?

03:53h
01/03/2007

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