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quinta-feira, 22 de março de 2007

Água guardada

Marte - Nuno - 26.12.16
Imagine que a folha virgem de tinta
fosse pele seca, virgem de água
Imagine como é a folha...
amarelada de medo do tempo
Como é o vento?
Espera o papel seco,
seca tinta que seca
Seca é mudez
é gangrena
é estupidez
atura a letra tua
que sua, pira, transpira, pira
suave pingente de chuva
anel de esperança
corrente verdade
suada conversa que alaga
Água guardada
grudada de mofa
lago de idéia
queimando a mufa
mofando os pêlos
pelando casca pelada
duro casco ferido.
Amassa o papel
folha amar ela enruga
rasga a pele
carne odia desce cala
e aquece, aquece, esquece, esquenta
lança mão da oração, do verbo
da caneta
pede, repede, ora, passa hora...
cansa de corar, escolhe outra cor
Tinta azul, por favor!!!
Um mergulho poroso na folha
um refresco aos poros um gozo
um hidratante remédio
anestésico emplasto poça poção
um oásis nas linhas das mãos
calafrio de redenção
um balde de água fria à fraqueza
à moleza à anemia
afoga a imagem da morte
joga com a ironia da sorte
luta por empoeiradas sobrevidas.

Sobram coágulos febris de fé
rogando pelas frestas dos reservatórios
certeza de sertão, ser tão triste, ser tão seco
ser errado, cerceado, ser cerrado velório
rasura rabisco borrão
berro no borralho
grito silencioso transverso
coração cauterizado
inverso de universo
versão que vaza, que esvazia.
Quem resiste, quem insiste é o verso
chama lava amorna as chagas.

Bah! leia o que está escondido
dê nome aos filhos
sinta derramar-se
molhe e não amoleça
abasteça os açudes, os vãos
forneça força aos depósitos
liberte as represas
preencha entorne beba
brinde à Vitória!
que a existência circula
pulsa, retorna
gera cerca roda
continua e renova
secando e banhando os caminhos
os ternos
tingindo os cadernos
drenando os peitos de inverno.

Miragem de sonho, raiz de quimera
Era uma vez... Quem sabe? Quem dera!
florescente semente, fresco sereno
fluente seresta de ser esta página
para lavar a alma, para irrigar a mente.
tatuagem de gente feliz
escrita úmida apostando num bis
mesclando pingos de peles sorrisos
terras de matos papiros papinhos de lis
...o vento anuncia virando
a gravidez das nuvens que choram raiando
amando a guache no papel de Fabiano
Que graça teria Graciliano, sem ramos?


03:39h
05/10/03

5 comentários:

  1. grand finale! muito bom esse trocadilho, a poesia como um todo é adorável!

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  2. Magnífico, este teu poema!...
    Que riqueza nas imagens, na musicalidade, que delicadeza na tessitura das linhas deste texto tão vivo e cintilante!... Tuas palavras vibram, e da trama-teia-colméia escorre mel e seiva vital, azul, dourada, terrosa, transparente!... Lindo.
    Linkei teu blog, está bem?

    (hoje mandei aquele teu texto sobre Água Viva para a Célia Musilli, e ela gostou muito!)

    Abraços azulados cintilantes.

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  3. bem eu sou laconico, impressão resumida numa palvra: é foda!, desculpe foi duas antecdida pelo verbo invariavel sinonimo da beleza de heidegger, e por esta palavra carioca que define o bom e belo

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