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quinta-feira, 28 de maio de 2009

a sede


, desista : a regra secreta no olhar do tempo é esse instante de nuvem morta e transparente , como se fosse possível ler a voz de um desconhecido desintegrando-se diante do olhar que é a canção dentro do espaço de um nome e será um instante branco como a senha no rosto deste morto ou morta no interior de uma cela ou de uma floresta , desista porque o amor desiste
sobre a incidência que existe no que sobra de uma sombra que é doce desejo de estar fora . Delicada é a costura em ponto de cruz , atravessando o tecido deslembrado em que se perfura a agulha no revés permissivo do erro e fere o dedo — riscadura do momento entre — alinhavo de surpresas em bordas de fios que tramam uma fisgada no dedo, desista
o amor desiste enquanto há um medo em esbanjamento , enquanto há no espaço de um nome um segredo que nunca se revelará e — no enquanto — gargalha alto , engolindo a súplica do olhar apelidado de nuvem
é como se de mim tivesse chovido na idade do transbordamento
na agulha do tempo que estoura o balão de água
agora sou tudo o que racha , tudo o que fende e sinto um tipo novo de sede , sim , existe toda uma constelação de diferentes sedes dentro do corpo
estou sentindo o desejo controlável de enfiar a cabeça dentro do oceano e beber um grande gole de água salgada
estou possuída pela sede demoníaca , perto de mim , na cabeceira da cama , há um copo d'água com uma rosa vivendo nele . Como será sentir a sede da rosa em um copo vazio ? saiu de mim a água que enchera o copo onde a rosa agora vive
e eu tão menor que ela , tão menos sublime
esvaziei-me para alimentá-la a fim de preferir sua vida menos maliciosa , menos consciente e por isso , com mais direito à existência , pertencendo onde me agarro com dentes amarelados e unhas já esfoladas . Sou o que eu persigo . Todo rudeza . Todo imobilidade
na verdade , transformo-me no copo vazio . Sou o que veio antes da água chegar e fui bebida num gole só
na verdade sei como é esta outra sede demoníaca porque estou morrendo mais rápido do que antes . Estou dentro de uma coisa chamada : 'Paciente em estado crítico' e essa coisa é como ser um copo para a terrível ausência de um campo de rosas vivas

Marcelo Ariel & Beatriz Bajo

2 comentários:

  1. ow, Bia.
    Vocês falam de sede, assim, de um forma tão bonita, que chego a salivar.
    Sede.
    Se não fossem nossas tantas sedes...

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  2. que coisa linda, a melhor parceria poética que ja li, vcs são demais...
    abração!!!

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