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terça-feira, 15 de março de 2011

rei mu(n)do


r e i m u d o

(n)

eram milhões de vezes soçobrando

interstícios de universo centrífugo

do rei que emudecera

palavras amaldiçoadas degeneram

hipocrisia assolando singelezas

o rei senta elegantemente sobre seu trono

tentando abafar retratos incendiados

ultrajantes

engasgos preteridos incuráveis

oráculos invertidos pelas cinzas diminutas

sacudidas nas ampulhetas ilusórias

dos fenômenos descartados nos

jogos de azar

tabuleiro sem nuances desamados

castelo de amarguras desbotadas

ofegando sentenças renunciadas pela vítima

reinado de orquídeas prostradas no parapeito

contemplam escoadouro da dignidade e da descendência

louros reptilianos dourados de ofuscar distintivo

mascaram nitidezes na incidência das frutas

hipnotizadas pelo sopro

sim, havia livros nas estantes nos instantes

descalculados da potencialidade ansiada

e personagens dançando sobre prosas infindáveis

repousadas no colo da cortesã madrugada

apaixonados sobre pontes entre um caco de vidro e outro

houve voos partidos dentro de vidas

n

sementes brotando na festa, graças e améns murchados

entusiasmo acovardado por desencontros

enroscados em lençóis úmidos

lágrimas sobre línguas

cidades que caminharam dentro de nós

sinais indecifráveis de Tibiriçá

lampião se apaga sob angicos

como os olhos encerram a pétala decorada

no templo arruinado por hostilidades

pintura de abaetés na pele do amanhecer

tingindo beijos transtornados que se arredam

do marco zero aos pés de Paulo

mas o rei apressado pelas aniquilações

corre ao revés com cetro no verbo

reflexos de cordeiros encharcados

claridade desamparada pelas portas certas

angústia coçando os pés quebradiços

desligamento com a sacralidade do minuto perpétuo

mergulhado no girassol segredado em cada peito

ininterruptamente asfixiado

pingo indissolúvel na xícara de café

magoada pela queda

cai rei de copas por baixo da mesa

embriagado e coxo

recolhendo versos escorregadios

que se movem entre casas brancas e pretas

armaduras despertadas nas torres trepidantes

artifícios enxadristas para a desnutrição

oferecidos em banquete sensual

coroa de diamantes incrustados em ouro

velha velhíssima

que tomba em um xeque-mate

dentro do silêncio perturbável de todos os mesmos dias

4 comentários:

  1. Lindíssimo o poema...ler um poema de Beatriz Bajo é um privilégio...um presente em forma de texto...Beatriz magnetiza...não há uma poetiza igual...que sabe unir o formal com o conteúdo...Beatriz dá as cartas e pode blefar com todas as palavras...elas sempre ficarão satisfeitas com os seus jogos lúdicos....Dá gosto...sabor de romãs ...surtos de sortes....sorver cada verso de Beatriz Bajo...assino levitado!

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  2. vc é um presente...suas palavras, um abraço inesquecível!

    beijo na vida inteira

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  3. Todo mundo é rei do seu próprio castelo de amarguras desbotadas.

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  4. Olá, Beatriz. Achei lindo este poema. Com imagens inusitadas e uma composição bem enredada, você sabe contar a realidade em versos por meio da incógnita das palavras. Encobre sem deixar de mostrar a beleza das coisas ao seu redor. Beijos, Alexandra.

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