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terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

dentro do jardim das horas, num dia internacional do amor

neste mesmo dia do ano passado eu postei o comer borboletas e o poema que mais me comoveu e comove até então, de Herberto Hélder (de toda poesia, 1996).
mas, renovando o dia do amor, trago fragmentos do poema "o jardim das horas", do meu amigo-bandido Léo Mackellene (fortaleza-CE), que é escandalosamente lindo e rendeu até a troca do nome de uma banda da qual foi integrante. O quarto das cinzas virou O jardim das horas.

mas voltando ao Léo poeta...ele tem um livro estupendo do qual já falei algumas vezes, em entrevistas, chamado O livro das sombras ou O livro dos mais pequenos silêncios e sobre o qual já escrevi. aqui: http://esquinaliteraria.blogspot.com/2012/02/o-livro-das-sombras-ou-o-livro-dos-mais.html

enfim, ao poema e ao amor, nesta ordem ou em qualquer desordem ou umdentrodoutro:

 
foto-luxototal de Ana Gotz


Entra.
Este é o meu jardim de desertos
sem portas ou janelas, entra.

não te espanta que não haja palmeiras aqui?
...também não cantam mais os sabiás.

Entra e senta
que o mundo é secular e ele pesa.
Olha que o abrigo do poema é o poeta
e vice-versa.

ESPERA... é só o silêncio pedindo licença,
velho mensageiro do invisível.

Agora já podes entrar. Senta.

todas as coisas se revelam no escuro
enquanto acendo um ponto de fuga e puxo
içamos o fogo da terra até os olhos

é lindo o jeito como tu fechas os olhos,
como se fechasse as portas da tua casa

vai até ali,
o espelho é o rosto dos rios,
já disseram.
Prostra-te ali e
diante do espelho
fecha os olhos e vê,
aponta o que está inerte.

CALMA... o movimento é a voz do silêncio
transbordando sobre tudo o que há,
tudo o que deve haver

é quando as luzes do universo se apagam
que as coisas se tornam puras, obscuras, secretas
(são os poemas que ocultam
a vida subterrânea de todos os segredos)

dancemos na escuridão desses caminhos,
dancemos que os espíritos antigos nos afagarão

Não tema!
O barulho das portas rangendo
é só o sentido das palavras se movendo dentro de nós

Exala silêncio teu beijo absurdo
e cego também eu
sinto os suaves gestos do infinito
sobre meu rosto ríspido, urdido de vestígios
(os mais sutis segredos trago guardados aqui)

em falso piso em falso,
passo de quem volta a caminhar depois de anos de hesitação
(o caminho se descobre caminhando,
não é o que dizem?)

Piso em falso sem saber onde morar
faço morada dos abismos que encontro ao caminhar
pouco importa então onde eu moro
eu não moro em lugar nenhum

importa aonde eu vou

Sempre assim,
continuamos. Nada mais.
que tudo acontece sem o nosso consentimento!

(nos aproximemos na dança
que já a canção termina
nenhuma canção pode soar pra sempre)

sozinho, me guio sozinho
sob os pequenos dedos do invisível
(se tudo só parece,
tudo está escondido)

tua pele exalando esquecimento,
enigma do impossível

O universo imenso se reordenando sobre mim
pra te acomodar entre minhas velas mais distantes...

(ainda dançamos a essa altura.
Mais três passos
e paramos.)

Olha...teu enigma sabe o indizível silêncio:
sugerindo!
Arte de reinventar o que existe.

Todos os poemas são profecias
e eu fiz um poema pra ti.
Verdade, fiz um poema pra ti.
Quer ouvir?

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